22 agosto 2009

Tornado-se Adulto

Parece que a cada dia esta cada vez mais difícil abandonar a infância e a adolescência e tornar-se adulto, não é incomum ver pessoas que esticam a sua adolescência até os 30 ou 40 anos de idade. Estranho também é perceber que isso não causa mais espanto nas pessoas, que atualmente acham natural um filho que há décadas é adulto e ainda permanece sob as asas de sua família. Estou citando os jovens do Brasil, pois na Suíça quando um filho atinge 15 anos de idade passa a ser tratado como um hospede, com o auxilio dos pais e sem pressão desnecessária ele deve sair e viver como adulto o mais rápido possível, perdendo todas as regalias e mimos.


O confortável ninho dos pais fica ainda mais atraente quando se percebe que o mundo é duro, que todos têm que enfrentar problemas diários. A mudança de perspectiva é clara, agora você estará no controle das rédeas sem alguém superior para guiá-lo (isso seria um adulto), terá no máximo um igual (como casal ao seu lado) e inferiores (caso tenha filhos). Em 2009 é uma transição difícil por muitas razões, alem de não existirem mais ritos de passagens como nas tribos antigas, que eram violentos e garantiam uma mudança firme, hoje, um jovem de 18 anos percebe que não há muitas oportunidades no mundo. E se vê diante de um inferno de competição, concorrências, batalhas pra conseguir espaço/reconhecimento, lutas amorosas e problemas sociais da qual ele é agora um dos responsáveis em contornar.


Outro problema que contribui para a longa permanência com os pais é a esquizofrenia latente da sociedade como um todo, que não tem mais identidade coletiva, e reflete esse fato no cidadão comum que não sabe quem é, e se torna incapaz de mudar (amadurecer). “Conhece-te a ti mesmo” já dizia Platão - ou Sócrates de acordo com os ortodoxos - há milênios atrás, citação que significa não apenas encontrar a própria verdade, mas a necessidade de guiar a vida de uma forma adequada visando à virtude e a felicidade. Atitudes de auto-reconhecimento que não são incentivadas na maioria das famílias brasileiras, e é na vida adulta que teremos que escolher quem somos, haja visto que na infância são nossos pais dizem quem devemos ser. A falta de mudança de alguns tornam verdadeiras as palavras de Belchior que diz: “... ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais...”


O conto de fadas da infância (pelo menos assim deveria ser) e o mundo real do adulto são tão diferentes que causam um choque numa porcentagem da população. Muitos se tornam místicos que preferem acreditar em algo extraordinário a aceitar os fatos corriqueiros e vivem numa realidade paralela. Existem também os que não conseguem fechar seus olhos a realidade cotidiana e acabam nas drogas, que é uma forma rápida e fácil de passar do mundo preto & branco para um “mais colorido”. A cada dia aumenta o numero de jovens (e não tão jovens assim) que fazem uso de drogas leves - álcool, maconha, haxixe, ecstasy, e tranqüilizantes legalmente aceitos pela sociedade - e das drogas pesadas – Heroína, cocaína e Crack – Tudo se deve ao efeito psicotrópico das drogas que elevam a consciência/percepção à um outro ângulo que não era antes compreensível, assim, por um curto momento a vida terá um novo sentido associado a sensações intensas ou xamânicas.


As drogas, é claro, são uma fuga. Existem aqueles que crêem que a maior das drogas é o sonho, que acaba dividindo as pessoas em dois tipos: de um lado as que preferem agir e transformar um determinado cotidiano através de esforços. De outro, as que preferem se refugiar inteiramente esquecendo uma realidade, as tornando domináveis, impotentes e infelizes. Alias, mesmo aqueles que querem mudar o mundo através de esforços têm a necessidade de sonho, contudo nesses, o sonho funciona como esboço de um plano que deve ser materializado.


Alguns que não agem não o fazem ao verificar que o mundo adulto tem objetivos fúteis e rejeitará qualquer sistema que ele seja estimulado a adentrar. “Se quisermos que as novas gerações vivam um mundo pleno de sentido, precisamos inventar novas provas de aprender a transformas o suor e as lágrimas em força de vida” disse o consultor da Unicef Fabrice Hervieu-Ware. A passagem rumo à vida adulta é inevitavelmente dura e difícil, uma verdadeira crise em nossa existência, e diante de uma crise nos comportamos de duas maneiras possíveis: enfrentá-la ou vitimar-se. Se não soubermos superá-las devemos gerenciá-las, pois o abandono de uma crise gera ainda mais crises. Se todos concordam que é hora de rever os ritos de passagens, é hora também de criar novos ritos, sem nostalgia. Nosso mundo tem necessidade de ritos modernos e positivos, com cerimônias originais e entusiásticas que promovam o reencontro com a morte, para que não se viva uma vida iludido e sem sentido que apensar dos nossos mais fortes desejos: tem fim.

3 comentários:

Augusto Campos Butenco disse...

situação é complicada mesmo, na minha familia tem um caso interessante, uma primam minha mó arrogante que vivia falando que tava loca pra fazer 18 anos, que ia ser independente e tals, fez esse ano, a familia toda tava fazendo vaquinha pra mudança, tá lá na casa da mãe dela...

Augusto Campos Butenco disse...

ah, a frase "conhece-te a ti mesmo" é uma inscrissão do templo de Delfos, onde Sócrates foi chamado de "o mais sábio entre os mortais", achei que seria importante destacar

[w]ill disse...

Vc tem razão, a frase "Conhece-te a ti mesmo" é mais comumente atribuída à Socrates, porem dentro de minhas pesquisas eu percebi que Socrates na verdade nunca existiu, o famoso professor de Platão era na verdade um personagem inventado pelo próprio Platão. Isso não é muito dificil de perceber, um pouco de pesquisa e se percebe. Faltou avisar isso no texto, obrigado por salientar. ^^