07 abril 2010

Fonte da Vida

Death is th Road to Awe - Clint Mansel


"Assim, Deus baniu Adão e Eva do Jardim do Éden e colocou uma espada flamejante para proteger a Árvore da Vida."
Gênese 3:24

Deus teve medo e a escondeu dos mortais, uma prova (teológica) que é possível, é o anseio de todos os que vivem, continuar sem fim a sua história. Muitos tentaram e até ficaram famosos na sua busca, como é o caso do alquimista Nicolas Flamel que segundo a lenda teria produzido a Pedra Filosofal, ou elixir da vida eterna, contudo, infelizmente, ele morreu. Freddie Mercury perguntava: "Who wants to live forever?(Quem quer viver para sempre?)" na sua linda canção que questiona a relevância das coisas frente a morte certa e inevitável.

Prepare-se para virar um hippie-metafisico com o filme "Fonte da Vida" (2006), escrito e dirigido por Darren Aronofsky, autor de filmes tão singulares e polémicos como "Pi" (1998) e "Requiem para um Sonho" (2000). Fonte da Vida é um dos meus três filmes preferidos, ao lado de Dogville e Scanner Darkly. O maestro Clint Mansel, responsável pela trilha sonora fez um dos melhores trabalhos de sua carreira com partituras singelas e ao mesmo tempo grandiosas na ressonância de sensações e emoções.

Quando o vi pela primeira vez, eu não consegui absorver tudo o que a película proporciona, são vários temas subjetivos, entrelinhas filosóficas e significados ocultos divididos em três linhas temporais. Pode parecer complexo (e é na verdade), mas é delicioso extamente por isso: é atrevido em sagacidade mas não no estilo cult pretensioso, qualquer um pode entender essa saga na luta contra a morte.



Seguindo a metáfora bíblica, por ter comido da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, o ser humano teve como consequência o nosso dia-dia moderno, nós vivemos com essa dualidade, tal como: Amor e ódio, viver ou morrer, certo e errado. Elas praticamente infectam todos os momentos do nosso cotidiano, em baixo de tudo isso esta a verdade: A Árvore da Vida, que representa a unidade ingénua do utópico Jardin do Éden. Pode existir uma diferença entre mim e você, mas se formos fazer um paralelo, somos um (ou estamos um), minha mente esta conectada com a sua fazendo uma só "frequência", a diferenciação entre escritor de blog e leitor de blog se torna irrelevante, o que importa é a mensagem que foi / esta sendo enviada por mim e recebida por você, que é uma só.

O filme nos ensina que é preciso um desprendimento do ego para vencer a morte, se entregar ao inevitável para poder viver plenamente. Nele viajamos pelos labirintos da existência humana até os seus confins, sonhamos com a eternidade do espírito humano e de um amor indestrutível. A fotografia é espetácular, cores quentes contrastam com a fragilidade de Izzy (Rachel Weizs), os efeitos especiais não somente feitos a base de computação gráfica, são também usadas reações químicas para demonstrar a explosão de uma super nova: Shibalba.

Um dos grandes atratívos do filme é fato da mesma história ser contada em tempos e realidades diferentes, isso desafia a imaginação do expectador, suas três premissas temporais básicas são: No Século XVI O navegador espanhol Tom (Hugh Jackman) vai até as Américas em busca da Árvore da Vida para salvar a sua Rainha (Rachel Wezs); no presente o médico Tom desesperadamente tenta achar a cura do câncer para a sua esposa e no futuro (Século XXVI) o astronauta Tom finalmente consegue achar repostas para sua perguntas.


Concluindo o filme num "Eterno Retorno Nietzscheniano", ou seja, um universo limitado em espaço contudo infinito em tempo. Nesse universo, após se esgotarem todas as combinações possíveis de seus elementos (como cartas em um baralho), tais combinações passariam a se repetir indefinidamente, assim sendo, todas as mais insignificantes variantes possíveis na vida de uma pessoa, animal, átomo ou até elétron seriam vividas da mesmíssima forma por toda a eternidade. Estamos a repetir eternamente o que eternamente estamos à repetir.


E alem de tudo, esse filme nos faz questionar: Amamos essa vida ou não? Se tudo retorna - prazer, dor, alegria, guerras, fome, grandeza, mediocridade - se tudo torna, isso é um dom ou uma maldição? Seriamos capazes de amar-mos a vida tal qual a temos - única vida que temos - a ponto de vivê-la como ela é, sem a menor alteração, por todo o sempre? Sofrendo e gozando da mesma forma e mesma intensidade? Temos amor a esse ponto ao nosso destino? Essa é grande questão filosófica, o Eterno Retorno que esta presente nesse magnífico filme.