09 agosto 2009

Preguiça


Na medida em que a tecnologia avança e o mundo material se torna mais e mais uma parte do ser de alguém, as pessoas têm se tornado mais e mais preguiçosas. A preguiça, é claro, é um instinto diretamente conectado ao egoísmo. Somos constantemente ensinados a sermos individuais, que ser único é o sonho humano, que você é especial e diferente de todo mundo, e que tudo isso é bom e verdadeiro. Infelizmente isso é impossível. As pessoas se tornaram absolutamente investidas em suas cascas de ego que permeiam a parte mais externa de sua personalidade, e a defendem selvagemente.



Ainda falando sobre egoismo: ele faz as pessoas colocarem em suas cabeças que a destruição do ego é a destruição de sua personalidade, de seu caráter, e isso é mentira. Diminuir o ego a um nível saudável é a purificação do caráter, de modo que se eliminem os vícios e defeitos maiores, removendo-se assim os desequilíbrios e sofrimentos de um indivíduo. O problema real surge quando alguém é tão defensivo de sua personalidade que defenderá até mesmo seus vícios. Eles dirão coisas como: “Claro, eu sou um mentiroso crônico, mas isso é quem eu sou, é assim que Deus me fez (nasci assim)”. Tal ideia é inteiramente sem fundamento. Apenas uma faceta da sua casca de ego é mentirosa, e não foi porque Deus o fez assim. Você é mentiroso por causa de suas ações que você, conscientemente, escolheu perseguir. Contudo, as pessoas não aceitam isso facilmente.


Voltando a preguiça, hoje, as pessoas se acostumaram a ter tudo em suas mãos. O sucesso agora é atingir determinado alvo com o mínimo de esforço possível. Pessoas ao redor do mundo, todos os dias, prefeririam passar dez minutos em busca de um controle remoto do que levantarem e ligarem ou desligarem a televisão em poucos segundos de esforço físico. Essas pessoas abordam os outros aspectos da vida do mesmo modo. Querem saber onde o controle remoto para sua vida profissional, amorosa, social, politica, escolar e etc...


A profundidade do egoísmo da pessoa comum nunca cessa de me impressionar. Eu falo a eles sobre civismo, evolução mental, perdão e mudança de atitudes, mas eles desistem porque soa como “muito trabalhoso”. Metaforizando: As mesmas pessoas que não jogarão nem dez reais para um dízimo (ou uma doação qualquer) também não darão a Deus nem dez minutos de seu dia. “Eu dou a Ele uma hora por semana todo domingo”, dizem para si mesmos. “Se isso não é bom o bastante para Ele, Ele precisa superar isso. Eu estou ocupado.”


A falta de habilidade de se perturbar a rotina usual de preguiça por até poucos minutos, é precisamente o que muitos autores e os chamados professores pregam hoje. Eles ganham centenas de milhares de reais ao escreverem livros especificamente criados para esse tipo de pessoa, dizendo a ela “É normal ser preguiçoso”. Nos olhos desse autor, é claro que é normal. Essas pessoas irão torná-lo rico!


Formas de convivio e relação social diversas que estão surgindo hoje estão refletindo essa preguiça. As pessoas estão tentando convencer outras de que tudo pode ser um esporte de um tipo fácil, e que tudo estará bem. O homem comum se levanta orgulhosamente e grita, “Eu, com certeza, não sou o problema!”.


Não espere ter uma boa colheita sem primeiro trabalhar o solo e cultivar as plantas com cuidado. Não espere ter uma boa refeição sem primeiro cozinhá-la. Não espere chegar a um lugar distante sem viajar até lá, como diria a Adriana Calcanhoto: "O controle remoto possúi um remoto controle". O universo não é mau, mas ele não atenderá à sua egoística letargia.

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