27 novembro 2009

Inglês vs Português

A cultura de um povo é o representante máximo do mesmo, dentro da diversidade cultural de uma população creio que um dos mais fortes elos da cultura com as pessoas em si é a lingua que eles falam. Tendo isso como verdade eu quero analizar e comparar a ligua portuguesa (que nós abrasileramos) com a ligua inglesa, usando as palavras e seus respectivos significados como referencia para as conclusões. Não falarei das palavras portuguesas exclusivas de nossa lingua (ex.: esperança), meu intento é justamente o oposto. Como estou com um medo (meio irracional, mas nem tanto) de ver o Brasil entrar em uma nova ditatura graças a descoberta do pré-sal, eu escolhi três palavras que remetem ao civismo, começemos:

A palavra inglesa “ accountability” simplesmente não tem equivalente em português. Geralmente ela é traduzida como “prestação de contas”, mas trata-se de uma escolha ruim. “Prestação de contas” é algo que você faz, enquanto “accountability” é algo que você tem. Talvez a tradução mais próxima fosse “responsabilidade”, mas aí é uma palavra ampla demais. “Accountability”, para os americanos, é uma idéia central na democracia. O cientista político Larry Diamond, especialista em democracia, costuma dizer que os governos democráticos de alta qualidade precisam ter dois tipos de “accountability”: a vertical e a horizontal. “Accountability” vertical é a obrigação de prestar contas detalhadas à população. “Accountability” horizontal é fazer com que diferentes agências do governo tenham a atribuição de fiscalizar umas às outras, para garantir que tudo funcione bem. Lá há dois tipos de “accountability”, enquanto aqui nem temos a palavra. Haja visto que os governos, no geral, não sentem a menor necessidade de prestar contas nem para baixo nem para o lado.

A expressão inglesa “rule of law” é outra ausente do vacabulário político brasileiro. Geralmente ela é traduzida como “estado de direito”, o que é bastante revelador da nossa relação com o estado: só estamos interessados nos “direitos”, mas não damos muita bola para as regras. “Rule of law” na verdade quer dizer “império da lei”, ou “domínio da lei”. Ou seja: a idéia de que as regras de um país são para valer, e para todos, não somente aos demais, e sim à nós mesmo tambem. Uma idéia tão estrangeira para o jeito brasileiro de pensar que sequer entrou para o dicionário.

E a última palavra: “public” está presente nas duas línguas. Aqui a tradução "público" trás um significado bastante diferente de lá onde “public” significa “do povo”, “da comunidade”. Aqui, generalizando pode querer dizer “do governo”, ou “grátis”. Empresa pública, no Brasil, é uma empresa que serve ao povo, não confundir com empresa estatal que embora pertença à nação tem a inteção de gerar lucro. Nos EUA, é empresa publica tem ações na bolsa e obrigação de publicar informações financeiras detalhadas. Nos EUA, faculdade pública é paga, só que mais barata que as privadas, e no geral com qualidade um pouco inferior. No Brasil, faculdade pública é necessariamente grátis, com qualidade muito superior à das privadas e majoritariamente frequentada por gente de alto poder aquisitivo. Enfim, no Brasil os pobres pagam faculdade, enquanto os ricos ganham de graça, isso resume bem as diferenças entres essas duas soberanias.

22 novembro 2009

Um leve pensamento sobre os pensamentos

Quero falar sobre a subjetividade que meu dia forneceu. Com exessão de fatos pessoais que não irei postar aqui, hoje me vi obrigado à ter um controle mental afiado para não cair em armadilhas feitas por mim mesmo, abaixo explico o por que dessa afirmação. E alem dos demonios que corriam no meu neocortex outros três acontecimentos levaram-me à manter a minha lógica, a de que tudo é ponto de vista, absolutamente tudo. Meu primeiro "sinal" foi no começo dia: uma canção que em sua sintese fala:
" Você só vê o que seus olhos querem ver, como pode a vida ser aquilo que você quer que ela seja: Se você esta congelado com seu coração trancado. "
Frozen - Madonna



Passaram-se as horas e meu dia se seguiu, trivial e mais tarde vi dois episódios de naruto, embora não acompanhe mais o anime, os vi pois é o gran finalle de um dos meus personagens favoritos, de todos os personagens de todas as estórias que já vi: Uchiha Itachi (imagem acima), não iriei abordar nesse post a incrível personalidade dele, mas sim, algo que ele disse no decorrer da animação:


"A verdade? Você descide se quer acreditar nela ou não. Para sobreviver, nos agarramos a todo nosso conhecimento agregado e o processamos na melhor compreenção possível a fim de criar a nossa realidade. Contudo, conhecimento e compreensão são ambiguos, tal realidade provinda de tais fontes podem ser facilmente uma ilusão. Humanos vivem fazendo suposições erradas, e não é essa uma maneira contidiana e rotineira de se viver?"
Uchiha Itachi

E para terminar esse pequeno flash sobre a complicada e as vezes perigosa subjetividade, eis abaixo um conto budista que trata com maestria e ensina a vigiar e a cuidar da sua sobjetividade, ou seja, vigiar o seus proprios pensamentos.
O monge e o padeiro

Havia uma padaria em frente a um templo budista, lá o monge do templo precisou viajar e pediu que o dono da padaria cuidasse do templo e atendesse às visitas, e assim o fez o comerciante. Ao saber que um monge forasteiro faria uma visita ao monastério o padeiro ficou preocupadíssimo, ouvirá a sugestão do chefe da aldeia:
"Raspe a cabeça, coloque o manto e apenas sente-se diante da parede como se estivesse meditando. Faça como se estivesse em treinamento de silêncio, nada fale, nem escute e nem responda”.
Então chegou o monge visitante e começou a fazer perguntas sobre o Dharma. O dono da padaria assumiu um tom grave e fez "Shhh". O monge entendeu:
"Ah, ele está fazendo muitos dias de treinamento em silêncio, mas já que estou aqui depois de tão longa caminhada nas montanhas, vou aproveitar e perguntar com gestos, assim ele também pode responder com gestos, sem quebrar o voto de silêncio”.

Gesticulando, o monge perguntou: "como é o seu coração, seu espírito?" O dono da padaria respondeu com um grande gesto para as dez direções, ou seja, os quatro pontos cardeais, os quatro pontos médios entre eles, para cima e para baixo: "meu coração é como o oceano".
Veio a segunda pergunta, "como viver neste mundo?", e o dono da padaria mostrou os cinco dedos da mão, os cinco preceitos: não matar, não roubar, não cometer adultério, não conduzir os outros a erros, não usar intoxicantes. O monge sentiu-se tocado, "ah!, que bonito!" E mostrou três dedos da mão, perguntando, "onde estão as três jóias, o Buddha, o Dharma, a Sangha?" Ao que o dono da padaria respondeu com o punho, "não procure longe, está aqui muito perto, perto do olho, está aqui."
Impressionado, o monge viajante foi embora.

Vendo isso, o chefe da aldeia correu até o padeiro, "o que aconteceu? Ele foi embora muito impressionado, me conte!" E o dono da padaria explicou:
"Aquele monge é muito estúpido. Primeiro, fez um gesto com as mãos, perguntando quanto custava o pão, se o pão da loja era muito pequeno, e eu abri bem os braços, mostrando que meu pão é bem grande. Ele perguntou quanto custam dez pães e eu mostrei-lhe cinco dedos, dizendo cinco moedas, mas ele me mostrou três dedos, pedindo que vendesse por três, e eu pensei, que sem vergonha, e por pouco não lhe acertei um soco no olho!"

Esta é uma história divertida que mostra cada um vendo o que está pensando em sua própria mente, interpretando à sua maneira. O que você vê depende de seu interesse. Aquilo que não lhe interessa, ainda que esteja lá, você não vê.
Muitas vezes ocorre o oposto, você vê o que não existe, você cria. Por isso, não confie muito naquilo que esteja vendo. Como podemos ver as coisas verdadeiramente? Aqui há uma mesa, mas mesa, o que é? Madeira, árvore, pregos e o quê mais? Afinal de contas, nada, vazio. Tudo é vazio.
Monge Ryôtan Tokuda, originalmente publicado no Bodisatva

09 novembro 2009

O Menino pinhão e o Garoto arco-íris


Eis que um menino que vivia numa cidade de muitos pinheiros, um dia passeava por uma rua de paralelepípedos, andava sozinho sentindo o calor do Sol tocando a sua face e a brisa do vento no seu corpo, pensava em um sentindo para a vida. Aonde olhava ele procurava beleza, e a achava: em uma sombra projetada de uma árvore, no som do canto de um passarinho ou nos outros meninos transeuntes, eles tinham corpos lindos. Ele era pseudo-tímido, pseudo-intelectual e pseudo-livre, se chamava Keoki. Tinha uma veia artística, contudo por imposição da família antiquada ele nunca colocou esse seu lado para fora, o que o machucou.

Na tentativa de sarar a ferida ele tentava mudar, mas as correntes eram fortes, entretanto ele não se rendeu e ficou se debatendo insatisfeito com sua condição de não brilhar. Enquanto se soltava ele procurava brilho externo. Analisou os seus amigos mais próximos e concluiu que mesmo atado a amarras tais pessoas eram mais toscas que ele. Pessoas que tinham máscaras exuberantes que sob tais disfarces pousavam-se faces estranhas por muitas vezes assustadoras. Inconsolado, ele saia à procura de uma nova estrela. Ele caminha o percurso irradiando a sua luz interior ao mundo a sua volta, à procura de um novo horizonte que reluza e reflita algo e que o tirasse da eterna sensação de dèja vu.

Como muitos dos insatisfeitos com o mundo real ele procurou refugio no mundo virtual. Na internet as coisas são mais fáceis para personas claustrofóbicas. Esse não era o desejo de Keoki que simplesmente passeava na web para distrair-se do tédio que tendia a invadir tudo agora na sua vida. A caçada cibernética por algo se findou no dia em que ele acabou tropeçando no perfil de um garoto chamado: Kevin que imediatamente deixou keoki intrigado com sua total falta de compromisso com o mundo convencional, sendo livre e solto, com cabelos vermelhos com unhas pintadas Kevin cativou keoki. A agradável surpresa virtual explodiu a cabeça do cidadão da cidade dos pinheiros.

Mal sabia Keoki que esse seria só o começo de uma longa jornada, longos anos se passariam sem que os dois pombinhos pudessem se ver. Embora morassem a poucos quilômetros um do outro, uma força os separava. Tinham sessões de bate-papo intermináveis onde eles riam até chorar. Kevin mostrava seu cabelo que em poucos meses dava uma volta total no circulo cromático das cores capilares e das não capilares como: Azul, Branco, Pink e etc. Keoki usava da escrita para tentar conquistar o menino arco-íris, tal qual um cavalheiro corteja uma dama pelo ouvido, ele entregava as suas perolas aos poucos, sabendo que elas seriam bem guardadas, e assim o foram.

Então, de súbito, numa noite de festa, em um lugar comum, após tantas tentativas mal sucedidas, eis que o destino resolveu aparecer e colocar uma encruzilhada nessas linhas paralelas. Lá eles se cruzaram, contudo não se reconheceram, até que foram unidos por um amigo em comum, olhares se duelavam. Charmes e malicias no ar levaram a uma conversa que gerou uma dança e que finalmente culminou em um beijo de toque suave e macio. Keoki estava beijando a pessoa mais interessante que ele já havia conhecido. Um leque de cores correu por sua mente. O garoto arco-íris beijava o menino pinhão que tremia por realizar o aquilo que daria brilho a sua vida novamente. Agradável tremor que não acontecia desde a sua primeira vez. Isso o fez pegar fogo que incendiou e já inflamável Kevin.

Karma, ou fatalismo os colocou em trilhos diferentes novamente, conversas virtuais se intensificaram tornando a relação uma espécie de namoro virtual, ou pelo menos era assim que Kevin considerava Keoki. Determinado a por um fim nessa distância o menino sonhador vai até a casa do garoto colorido. Toca a campainha, é recepcionado com um beijo. Keoki é apresentado à “pessoa Kevin” e não o “Kevin de capa de revista” que ele conhecerá. E se interessou muito mais pela pessoa do que pelo pop star que brilha e reluz o arco-íris.

Impressionado em haver alguém que seja polemico, atrevido e meigo ao mesmo tempo, keoki vê uma pessoa amigável, culta e de bom humor que balança o seu mundo estruturado com firmes pilastras que se racham, ele desejava fazer filosofia, por julgar já ter visto de tudo, entretanto, ali em uma noite, ele optou por ser solto. Aceitou o conselho de Kevin que disse: “Não faça filosofia, é muito pesado, você vai se arrepender.” Eles se divertiram nesse dia, eles riram, se agarraram no sofá, no chão, na cadeira, na mesa... E por fim ficaram (por não estarem sozinhos) abraçados e conversando juntinhos.

Ele vai embora quase de madrugada e eles se separam novamente, e o tempo passou, e o mundo mudou. Para ambas as personagens: Keoki esta otimista com relação ao futuro, crê que tudo é possível, perdeu o desejo de encontrar a luz no fim do túnel (ele já a achou, ela esta dentro de si, Kevin o mostrou), foi ensinado por um ótimo professor a dar valor à vida, à alegria e à liberdade. Kevin, garoto sonhador de pensamentos grandes, embarcou numa jornada em busca de ver seus desejos realizados, confirmando a sua singularidade.


Que universo conspire em unir novamente esses dois indivíduos.”
Esse é o desejo de Keoki.

02 novembro 2009

Choque de realidade

Eu já tinha me esquecido que eu era uma aberração!

Sim, sou o esquisito, se levar em consideração a preferência sexual da maioria: eu me destaco por ser diferente. Há tanto tempo eu estava vivendo na bolha da minha vida "colorida" que nem lembrava mais desse fato, simples, que achei que estava preso à nostálgica parte da minha vida.

A ilusão de felicidade se esmigalhou hoje, quando fui violentamente lembrado dessa diferença graças às agressões gratuitas que recebi num fórum agora a pouco, em parte escrevo isso como descarrego. Ainda esta preso à minha goela a carga negativa que jogaram na minha cabeça.

Lembrei que sou odiado, que sou temido. E não no ponto “cool” dos metidinhos à Fernanda Young da vida, não! Odiado e temido a ponto de ter a integridade ameaçada. Eu enfrentei um ódio que levou meu interlocutor a usar de toda a sua capacidade em me ferir. Intelectualmente eu venci o duelo, mesmo com ele me ofendendo e eu usando de toda diplomacia, se fosse uma discussão cara a cara haveria tido um confronto físico. Isso me assustou, me lembrou.

Fui pego de escudo abaixado, atrofiado com esse tipo de atitude, por viver na ilusão darwinista de que o mundo esta evoluindo. Não sou de levantar bandeira, contudo gostaria de deixar um registro aqui de que fui ferido, que as antigas cicatrizes se abriram e finalmente, que isso tudo me lembrou à levantar meu escudo ao seu devido lugar.