17 fevereiro 2010

Fevereiro no Brasil


Pra mim, o carnaval é a alforria do ego (self/alma) disfarçada numa tradicional baderna generalizada que infecta a maioria dos brasileiros, e os fazem perder a máscara da hipocrisia que durante onze meses repousam sobre suas faces mentirosas e nesse mês se libertam e se revelam como seres: Felizes, alcoólatras, irresponsáveis e depravados. Eu também tenho minhas perversidades, contudo não preciso de um festival pagão pré-cristão pra viver as necessidades de minha carne, as assumo e as consumo quando me dá vontade e não quando me é permitido.

Nesse ano eu me refugiei, como sempre faço, pois não me agrada tanta desordem, quando retornava à minha casa, ao entrar no meu bairro, numa rua comum onde todos transitam em paz em um dia "normal", vi o carnaval se manifestando: Era por volta do almoço e vi um senhor muito bêbado e com a pele extremamente queimada e vermelha, deduzi que ele havia passado o feriado na praia e por motivos de força maior acabou impelido à chegar aqui, ele não sabia aonde estava, deu para ler isso nos seus olhos, foi de dar dó. E não somente ele, pessoas estranhas e bêbadas por todos os lados, cheiro de churrasco, carros apressados em pleno feriado, bares abertos entupidos de gente em plena segunda-feira.

Essas coisas me fizeram lembrar-se de uma idéia que li no livro "À Sombra das maiorias silenciosas" de Jean Baudrillard onde ele explica que a função primária da massa é absorver impactos. Tal qual um soldado que obedece a um major do exercito, o povo obedece ao sistema e realiza tudo o que lhes é pedido, como: consumir muito, aplaudir a mulher-pavão cheia de penas da TV, viajar para o litoral/interior para distribuir riquezas, jogar fora o bom senso e etc... Outra condição muito comum da massa (que por definição deve ser "silenciosa") é aceitar ver o Congresso Federal não trabalhar durante dois meses e ter como recompensa uma semana de folia, uma troca justa aos olhos alcoolizados dos mestres-salas e porta-bandeiras tupiniquins. Logo, agora todos podem voltar a cuidar do mundo que os rodeia, já que o carnaval passou: Bom dia, acordem.

08 fevereiro 2010

Tic tac, tic TAC!

Carly Comando - Everyday


A vida constantemente nos ensina a dizer adeus à aquilo que amamos e também à aquilo que odiamos. Com a roda vida do tempo que segue o sol a girar no céu, tudo se renova num novo amanhecer: O pulmão inspira o ar, o leque das possibilidades de abrem, o cheiro da chuva, a brisa no rosto, o orgasmo sexual, a beleza dos sons bem executados num aparelho musical, a vastidão de coisas a serem observadas... E se finda num lindo crepúsculo dourado.

Adeus dia, é chegado o período de trevas, no passeio noturno, aparentemente vazio e sem controle deixamos a nossa consciência ser esmagada pelos nossos sonhos. No mundo onírico vestimos novos egos em uma nova matrix. Voamos sem asas, realizamos o impossível, matamos o imortal e ressuscitamos os mortos. O eterno e o infinito cabem dentro de nós.

Adeus noite, é chegada a alvorada e precisamos nos desfazer de certas condições: vestir a carne de nossos corpos físicos e aceitar os arquétipos mentais que constituem quem somos. Lapidar cada segundo que se passa com o brilho de nossa alma, fazer escolhas verdadeiras que preencham o nosso peito de alegria com convicção, para não ser corroído pelo fatal arrependimento. Adeus passado, meu querido presente: me leve ao futuro, e lá seja um lindo momento para mim (e para você).